domingo, 17 de abril de 2011

Bernardo: ‘Não temos fórmula para questão do dólar’

Ministro do Planejamento de Lula, Paulo Bernardo é, sob Dilma Rousseff, titular da pasta das Comunicações. Mas mntém um pé e os dois olhos na área econômica.
Em entrevista à repórter Maria Isabel Hammes, o petista Bernardo discorreu acerca das apreensões do governo.
Sobre o problema do câmbio, uma encrenca em que se misturam o derretimento do dólar e a sobrevalorização do Real, o ministro admitiu:
“Não temos uma fórmula para resolver o problema do dólar, que está caindo no mundo inteiro”.
Quanto à ameaça de retorno da sanha inflacionária, Bernardo primeiro rendeu homenagens ao óbvio: “A inflação é absolutamente preocupante”.
Depois, contou que, por ordem de Dilma, a firmeza no combate à carestia é agora combinada com a preservação do PIB:
“O governo está atento, mas a presidente orientou que houvesse também preocupação com o crescimento econômico...”
Durante a conversa, o ministro disse que o governo vai reagir contra empresários que antecipam reajustes de preços escorados na expectativa de inflação. Citou o setor de combustíveis.
Vão abaixo algumas das principais declarações de Paulo Bernardo:
– A inflação: A inflação é absolutamente preocupante. O governo está atento, mas a presidente orientou que houvesse também preocupação com o crescimento econômico. Ou seja, vamos bater duro na inflação, mas não vamos cessar o crescimento. [...] Isso está sendo feito com uma sintonia fina para levar a inflação ao centro da meta e permitir que a economia continue se desenvolvendo e crescendo.

– A antecipação da perspectiva de inflação futura nos preços do presente: Olha o caso da gasolina: não aumentou na refinaria, mas aumentou nos postos. Tem casos de precificação, sim. A expectativa leva à precificação.

– A reação contra os abusos das empresas: O governo vai baixar esta expectativa e reduzirá a inflação. Um pouco de agrado e ameaças de umas pancadas, se precisar. Tem gente que abusa. Veja o que aconteceu com o mercado do etanol.

– A resposta de Brasília às usinas de álcool: Esse segmento sempre foi assim porque pode converter a produção de etanol para açúcar de acordo com o preço mais vantajoso. Isso nos impede de exportar etanol. A Europa e o Japão não adotaram um programa forte de etanol porque nós não temos condições confiáveis de fornecer. Mas o governo está discutindo o seguinte: quem não tiver previsibilidade e garantir confiabilidade [na produção de álcool] não terá a mesma condição em financiamentos. Eles fazem financiamento baratinho no BNDES com dinheiro que tem subsídio e, depois, querem ganhar mais com o açúcar. A ideia era subsidiar o álcool. Deve ter um contrato com a previsão de que a liberdade estará amarrada a obrigações.

– O câmbio: A questão do câmbio é mais complicada. Não temos uma fórmula para resolver o problema do dólar, que está caindo no mundo inteiro. É uma política dos americanos para resolver o seu problema econômico. Agora, o que temos de fazer aqui são algumas reformas estruturais que reduzam o custo da produção. E isso significa ter estrada boa, ferrovia, portos e aeroportos funcionando, mudanças tributárias que gerem custo menor e maciços investimentos em educação para ter mão de obra mais qualificada.

– A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos: O Correio é uma joia, o serviço no Brasil tem quase 300 anos, a empresa funciona em todos os municípios do país, mas descuidamos. Deixamos problemas de gestão se acumularem, tínhamos uma diretoria que não era coesa, não havia um comando centralizado, o que resolvemos. Mas há outras questões a solucionar: o déficit hoje é de 10 mil funcionários no país. Estamos com um concurso aberto para o dia 15 e que recebeu 1,7 milhão de inscrições, mas demorou um ano e meio para sair porque tinha problemas no edital e foi alvo de questionamento duro e com razão do Ministério Público.
- A fadiga do material: O pessoal do Correio está estafado e pressionado pela falta de gente. O gasto com transporte aéreo é de R$ 300 milhões e não tem empresa contratada, só de emergência. Agora, estamos refazendo editais para contratar por prazo maior e estudamos se teremos subsidiária para transporte aéreo.

– Os atrasos no Sedex: Nem me fale isso. Fui mandar um Sedex e a funcionária me sugeriu que eu não mandasse um Sedex e sim um outro – PAC –, pois chegaria atrasado. Nós vamos resolver isso, pode cobrar depois.

– O desafio de elevar, em quatro anos, de 35% para 70% os domicílios com acesso à internet com banda larga: [...] A orientação da presidente Dilma é popularizar o acesso à internet no país, o que vai melhorar o desempenho na educação, condições de serviços de saúde e a produtividade nas empresas, dinamizar a indústria do entretenimento e gerar empregos. É bom para o país. Quando fizemos o Plano Nacional de Banda Larga, soubemos que ainda há 20% de internet discada no Brasil.

– A baixa qualidade e os altos preços da telefonia: Vamos aumentar a fiscalização e a concorrência. Queremos obrigar, por exemplo, o compartilhamento de infraestrutura entre as empresas. Você vai com seu celular em uma determinada área de uma operadora e não tem antena, e a outra não dá passagem. Com o compartilhamento, elas terão de concorrer mais ainda nos preços e tem mais: a telefonia celular no Brasil conta com subsídio. Quando você faz uma ligação do fixo para celular, a maior parte do pagamento da ligação é para o celular. E nós vamos discutir isso também, que se refletirá em custo menor na tarifa. Em 2012, teremos concorrência para nova frequência, o que também ajudará nos preparativos para a Copa.

– A TV digital: Estamos analisando a tecnologia da interatividade, será um atrativo a mais. Estamos atrasados, sim, na TV Digital, há empresas que não têm recursos, tem gente que ainda não aposta no serviço. Mas acreditamos que vai pegar. O prazo para o término da TV analógica é em 2016. Com a proximidade da Copa, vai ser uma enxurrada de venda de TVs. Em 2010, foram 15 milhões de TVs vendidas, quase todas com entrada para TV digital, para conversor. Quem não tiver digital na Copa, perderá espaço porque as pessoas só vão querer TV digital porque a qualidade, a diferença, é gritante.

No hay comentarios:

Publicar un comentario